segunda-feira, 9 de abril de 2012

JUNG E SINCRONICIDADE: O CONCEITO E SUAS ARMADILHAS




Ø Sincronicidade - É o conceito usado por Jung para designar dois ou mais
eventos que parecem ter uma correlação, sem que se encontre um nexo causal
entre eles. É um princípio de conexões acausais. Na ocorrência de fenômenos
sincronísticos, o tempo e o espaço são reduzidos a vetores secundários, não
quantificáveis. Tais eventos são chamados de fenômenos da coincidência
significativa. Jung dizia que os fenômenos da sincronicidade “mostram que o
não-psíquico pode se comportar como o psíquico, e vice-versa, sem a
presença de um nexo causal entre eles”. Os eventos ligados aos fenômenos
da percepção extra-sensorial são considerados por Jung como sendo da
sincronicidade.
Eventos em sincronicidade são aqueles que ocorrem, simultaneamente ou
não, sem um nexo causal entre eles, sendo um interno e outro externo ao indivíduo
que os percebe. Quando alguém tem consciência de que algo, em que tinha pensado
ou percebido em si mesmo, sendo de seu exclusivo e íntimo conhecimento,
assemelha-se a um acontecimento externo ou com ele encontre uma correlação, sem
que tenha havido para este último sua participação, estará diante de dois eventos em
sincronicidade. A sincronicidade não nos leva à compreensão do que ocorre, pois é
apenas uma palavra utilizada para identificar um fenômeno sem explicação plausível
ou que não obedeça a uma causalidade conhecida. Um exemplo pode ilustrar
melhor: alguém está assistindo a um filme qualquer num cinema e uma cena o faz
lembrar de um episódio de sua infância, ocorrido há muitos anos, no qual brincava
com um amiguinho que não vê desde aquela época, e, ao sair do cinema, encontra
este mesmo amigo. Ocorrências como essas podem trazer pistas sobre o significado
da vida e de como cond uzi-la adequadamente.
Os fenômenos da sincronicidade são muito comuns em todas as culturas e
épocas da história humana. Ocorrem desde que o ser humano assumiu a consciência
de sua existência como indivíduo. Vez por outra nos deparamos com tais eventos,
sem que os provoquemos ou possamos estabelecer a freqüência com que ocorrem.
Parece que a necessidade lógica de associar os fenômenos da natureza, de acordo
com uma causalidade imediata, realizada pela consciência, obscureceu a percepção
da sincronicidade como um evento natural.
Mesmo sendo um evento natural, a sincronicidade pertence a uma dimensão
supra-arquetípica, pois não se percebe qualquer possibilidade de intervenção causal
da psiquê humana em sua produção. Pode-se até afirmar que para sua ocorrência
houve a participação do arquétipo do Si-Mesmo, porém será sempre uma inferência
improvável. Mesmo assim, permanece a suspeita da participação direta do(s)
inconsciente(s) envolvido(s).
Há pessoas que parecem atrair com maior freqüência os fenômenos em
sincronicidade. São como imãs psíquicos para que eventos externos coincidam com
aspectos psíquicos internos. Essas pessoas recebem constantemente sinais de que a
vida contém muito mais do que eventos causais; aspectos que são representações de
processos psíquicos ainda não compreendidos. Isso é observado na maioria dos
médiuns ostensivos. Os fenômenos da sincronicidade parecem ocorrer em maior
quantidade e intensidade com eles. Suspeito que eles tenham o inconsciente mais
“aberto”, isto é, suscetíveis com maior freqüência a exprimir-se.
Quando um evento em sincronicidade é percebido por uma pessoa, esta deve,
depois de tentar entender o que aconteceu, relevar a ocorrência do fato em si e ir em
busca da compreensão do Universo sob outro paradigma além do material. Deve
começar a compreender que a vida contempla aspectos espirituais importantes, nos
quais deve investir. A freqüência de eventos em sincronicidade na vida de uma
pessoa representa um chamado de Deus para que sua existência encontre um novo
significado e aconteça a necessária transformação nos valores e percepções
adotados.
Um dos eventos mais comuns, cuja explicação pode ser levada à conta da
sincronicidade é quando pensamos em alguém e em seguida temos um contato real,
não planejado, com aquela pessoa, seja por telefone, por computador ou
pessoalmente. Essa ocorrência pode ser explicada pela telepatia, cujo funcionamento
não é profundamente conhecido, bem como ter causas espirituais, devido à
influência de algum espírito sobre a lembrança de alguém para favorecer o seu
encontro com outrem. Telepatia ou encontros provocados por espíritos, são
sincronicidade por causa da coincidência significativa entre um evento interno
(pensar em alguém) e o evento externo (encontrar ou comunicar-se com a pessoa).
De qualquer forma, quando este tipo de evento ocorre, não deixa de ser um sinal
para que a pessoa passe a se ocupar das coisas do espírito. A sincronicidade
percebida é sempre um convite à subjetividade da vida e à compreensão de algo
maior do que a razão possa alcançar.
Há fenômenos em sincronicidade cuja compreensão extrapola a inteligência
comum, pela complexidade de sua ocorrência. Considero que a explicação se
encontra a partir de outro sistema de formulação da realidade, ainda não alcançável
pela mente humana. São fenômenos que envolvem a morte, a mediunidade, o
transporte e materialização de objetos em ambientes fechados, dentre outros. Da
mesma forma, os eventos em sincronicidade no qual animais participam. Mesmo
considerando que a mente humana tem suas raízes na estrutura cerebral, portanto
animal, e que pode haver semelhanças nas freqüências, torna-se difícil aceitar uma
possível intencionalidade.
Quando os eventos em sincronicidade se referem a constantes encontros com
pessoas nas quais se pensou ou cujos nomes foram pronunciados momentos antes,
isto está relacionado com uma necessidade interior de modificação do padrão
psíquico de conexão com o outro, quem quer que seja. Tal modificação não se deve
a algo negativo, mas à intensidade e qualidade da relação entre aquelas pessoas. A
sincronicidade ocorre para uma nova aproximação com aquela pessoa ou com
alguém que guarde semelhança com a personalidade daquela pessoa.
O mito pessoal também pode ser identificado através das relações com os
eventos da sincronicidade, cuja leitura deve ser feita quanto à qualidade, isto é,
conteúdo e freqüência com que ocorrem. Tais eventos representam aspectos
psíquicos internos, cujo controle foge ao alcance do indivíduo.
Alguns tipos de eventos em sincronicidade:
1. Pensar ou falar num animal e ele aparecer no ambiente. Tal evento, dentre
outras possibilidades, pode estar associado a características daquele animal, que
merecem atenção e reflexão na personalidade da pessoa. A vitalidade instintiva
característica do animal participante do evento denota a existência de um campo de
força ctônica presente.
2. Pensar em alguém e se encontrar em seguida com aquela pessoa. Esse
evento pode estar simbolizando uma necessidade da ampliação de contatos sociais
na vida da pessoa. Pode também representar a conectividade existente, e nunca
rompida, entre aqueles que um dia já estiveram juntos.
3. Lembrar de uma pessoa e receber uma carta ou e-mail dela, depois de muito
tempo que não a vê. Em acréscimo ao item anterior, denota a necessidade da pessoa
ampliar suas conexões afetivas. O contato via computador, denominado de virtual,
não alcança a complexidade afetiva daquele ocorrido pessoa a pessoa.
4. Alguém morrer no mesmo dia e mês em que a pessoa nasceu ou que algum
parente muito próximo tenha morrido ou nascido. A sincronicidade de datas diz
respeito, além de algum tipo de relação com aquela outra pessoa, aos ciclos da vida
e ao uso do tempo. A pessoa deve estar necessitando avaliar melhor as fases de sua
vida e se viveu as experiências pertinentes.
5. Alguém morrer e no mês, dia ou hora seu relógio deixa de funcionar. Tal
evento, para quem o percebe, pode denotar a consciência do aproveitar as energias
disponíveis no momento presente. O tempo e sua marcação, como componente da
sincronicidade, podem estar revelando a uma necessidade maior de considerá-lo e
de valorizá-lo.
6. Alguém sofrer um acidente e algum de seus objetos, a quilômetros de
distância, desaparece ou se quebra. Isso pode simbolizar a conectividade de tudo no
universo, bem como a necessidade do desapego. A relação entre a pessoa e um
objeto à distância pode simbolizar vínculo com o local onde ele se encontra e o
significado a ele atribuído.
7. Pensar num número e se deparar seguidas vezes com o mesmo durante o dia,
em placas de carro, telefones, documentos, etc. A soma dos números vistos pode ter
um significado particular para a vida da pessoa. O número é uma abstração que
aponta para a subjetividade da mente humana.
8. Ocorrência de eventos que se assemelham, vividos por pessoas que não se
conhecem e que culminam com imprevisível convergência, percebidos por alguém
que os associa mentalmente. Quem associou aqueles eventos síncronos pode estar
sendo chamado a uma busca espiritual.
A sincronicidade é uma dimensão que extrapola os níveis causais conhecidos.
Traz ao ego a necessidade de transcendência dos conteúdos da consciência, visando
a compreensão de outra ordem de valores e possibilidades na vida. O mito pessoal
poderá ser visto também pelos eventos em sincronicidade na vida de uma pessoa,
principalmente pelo natural convite à transcendência.

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